11.24.2014

Gatinhos silvestres podem ser sociabilizados?


Antes de tomarmos a decisão de sociabilizarmos gatinhos silvestres, temos que considerar alguns factores importantes:

Tempo: devemos pensar se temos o tempo necessário para fazer este árduo trabalho de sociabilização. Isto é, se podemos despender algumas horas por dia para cuidar e trabalhar com ele, durante um período que pode levar apenas algumas semanas ou meses. Infelizmente, muitas pessoas acolhem gatinhos assilvestrados com a melhor das intenções, mas não despendem o tempo necessário com eles, e o que acontece é que algum tempo depois apercebem-se que não conseguem tocar no gato.


Adopção e Contactos: se a nossa intenção não for ficar com o gatinho, depois deste estar devidamente sociabilizado precisará de uma família. Aqui devemos ponderar se temos contactos e agilidade suficiente para conseguirmos uma família responsável para ele. 

Idade do Gatinho: se tem mais de quatro meses e estiver saudável deverá permanecer na colónia (não se esqueçam que estamos a falar de gatinhos silvestres). Aqui o nosso trabalho deve passar por tentar cuidar dessa colónia (providenciando abrigos, alimentando e esterilizando) com a ajuda de mais pessoas sensíveis à causa (amigos, vizinhos, associações).

Se a nossa decisão foi então sociabilizar o gatinho:

Como sabemos, gatos silvestres não são sociáveis com pessoas - e não podem ser adoptados. No entanto, com algum tempo, paciência e dedicação, os gatinhos até aos quatro meses ainda se podem tornar excelentes companheiros! Não é uma transformação do dia para a noite e é necessário um enorme comprometimento, mas o resultado final compensa todo o esforço.

Para se tornarem então estes excelentes companheiros, precisam de ser ensinados a sentirem-se confortáveis e a confiarem nas pessoas. No início, irão apresentar todos os sinais de desconforto e stress: bufar, rosnar, cuspir e evitar o contacto.
Se o gatinho tem menos de dois meses, normalmente qualquer pessoa o consegue sociabilizar seguindo poucos passos. Se tem mais de dois meses, requer mais tempo e trabalho.

Partilhamos os passos para que este trabalho seja bem sucedido:

1. Confinamento: o gatinho deve ser mantido numa divisão pequena (quarto, casa-de-banho ou um mini apartamento improvisado - como o da imagem abaixo) para lhe transmitir segurança.

Foto por: Vera Carvalho



Esse espaço deve ser preparado com tudo o que o gatinho necessita: comida, brinquedos, caixa de areia e local para se esconder.
A ter em atenção: o gatinho vai tentar esconder-se em locais que para nós podem ser de difícil acesso, portanto, o melhor é tentar prevenir essas situações, colocando alguma barreira nesse tipo de locais.

2. Sociabilização: vamos dar ao gatinho cerca de dois dias para se adaptar ao ambiente, antes de começarmos o trabalho intenso.
A transportadora deve estar presente neste ambiente e é boa ideia colocá-la elevada do chão. É também importante que ele possa já ouvir os barulhos da casa: televisão ligada, máquinas a funcionar, em suma, rotinas.

Os gatinhos irão responder a experiências positivas, pelo que devemos sempre recompensar os comportamentos adequados e nunca punir os indesejados (lembrem-se que estamos a tentar ganhar confiança).
Se estamos a trabalhar com uma ninhada e as respostas estão a ser demasiados lentas, uma opção é separá-los ou então trabalhar todos os dias um bocadinho individualmente com cada um. 

Comida é a chave para uma boa sociabilização! Podemos deixar a ração seca todo o dia à disposição e vamos alimentá-lo com comida húmida quando estamos presentes. Se quisermos respostas ainda mais rápidas, podemos fazer o mesmo com a ração seca, ou seja, só providenciá-la quando estamos presentes. Gradualmente, vamos aproximando a taça onde ele está a comer do nosso corpo, até que conseguimos colocá-la no nosso colo e o gatinho encontra-se lá a comer. Ao mesmo tempo que fazemos isto, vamos manuseando-o e dando-lhe miminhos, para que ele se habitue ao nosso contacto. Quando ele já se sentir confortável a comer perto/em cima de nós, podemos começar os exercícios de manuseamento pegando nele ao colo (imagem abaixo). Não esquecer de recompensar sempre.


Aqui podemos começar a habituá-lo a ser escovado, a cortar as unhas, a observar a boca e dar medicamentos.
É também importante que brinquemos com ele - irá ajudar se nos baixarmos o máximo possível e ficarmos ao nível dele (tornarmo-nos menos ameaçadores) e que lhe mostremos novos ambientes fora daquela divisão. Se ele ainda estiver muito assustado, podemos embrulhá-lo numa toalha, deixando a cabecinha de fora e passeamos um pouco pela casa com ele (enquanto aproveitamos para fazer alguma coisa).

Depois do gatinho estar à vontade, de conseguir adormecer no nosso colo ou até ronronar, podemos mudá-lo para uma divisão maior, na mesma à "prova de gato" e ir apresentando-lhe tudo o resto gradualmente, incluindo pessoas e outros animais.

Lembre-se que é um trabalho árduo e os resultados podem demorar a aparecer. Cada gatinho é diferente e cada um é que decide o seu ritmo.





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